sexta-feira, 8 de maio de 2015

"Estoriar"

- Me conta uma história?
Sem tristezas ou vitórias.
Apenas uma história, onde você não precise provar pra todo mundo que não é preciso provar nada pra ninguém.
Me conta uma história?
Sem perseguição ou escapatória.
Apenas uma história, onde eu não precise torcer pro mocinho ou pro vilão, pra princesa ou pra bruxa, para o bem ou para o mal.
Me conta um canto? Me canta um conto? Me toca no ponto que eu não preciso julgar.
Me conta um conto? Me canta um canto?
De silêncio, pode ser? Para que eu ouça o que se diz pelos olhos, pra que eu veja o que exala a alma, para que sinta a verdade escondida nessa vida maquiada, maquinada, maquiavélica...
- 'Ma qui' história é essa?
- Não sei, viajo à beça.

Até, Riza!

Aterriza em sua alma o peso do ter.
O que fazer com o ter, já é ter.
Éter...
Éter na mente, no corpo, na discussão.
Eternamente...
Eterna mente, que mente ou desmente?

Aterriza em sua alma o peso da mentira.

O que fazer com a verdade, já é mentir.
Émentir...
É, mentir não forma nada.
Mas me faz pensar...
Qual é o verbo da verdade?

Aterriza em sua alma o peso da verdade.

O que fazer com a verdade, já não é morrer?
Morrer em vida!
Acontece... também quando o éter, na mente, mente eternamente.

Mas e viver?

Ah, viver...
Deve ser a busca pelo verbo da verdade...

Quem, mais do que quem?

A gente se gostou.
Você mais do que eu, lá, nos primeiros dias, apenas. Quis me conhecer melhor, me chamou de ‘surpresa boa’ e assim você também se tornou para mim. Os dois estavam passando por fases conturbadas, em sentidos diferentes. Olha, estava sendo ótimo. Nos conhecendo, sem cobranças, sem pressa... E com o passar do tempo, nos vimos cada um agindo segundo suas vivências, ao invés de continuar na leveza do novo.
A primeira falha foi minha! Na, dificilmente controlável, TPM, somada a pequenas doses de questões pessoais, descontei em você a mágoa de me sentir usada. Precisava falar pra alguém e você era a minha conversa diária. Mas sim, eu fui egoísta. Já fora do período onde os hormônios dominam a razão, eu pude notar. E lhe contei que percebi isso. Quiçá eu soubesse que por assumir-me em falha, você mudaria. E era para eu saber!
E então o primeiro bloqueio... Nossa! Se eu vier a escrever cada detalhe e novos bloqueios, não escrevo uma crônica, escrevo um livro!
Mas um me é interessante, no momento, para talvez expor meu penar, meu pensar, meu pesar.
Eu estava de bobeira e se pudéssemos nos ver, adoraria. Você, como sempre, todo atarefado, também gostaria, me disse. No dia que você poderia, eu não. No dia que os dois poderiam, cansaço e horário falaram mais alto. E então sem pedir atitude nenhuma e apenas expressando o incessante desejo de te ver, de te ter, li um singelo ‘te ligo’. Duvidei... Falei que duvidava! E confirmado me foi que haveria uma ligação. E ela não houve. Não aconteceu. Ainda bem que não deixei de lado outras possibilidades, ainda bem. Pois eu teria me enchido de teias de aranha, à espera... de pelo menos um ‘foi mau, não deu’.
Alguns dias depois: ‘não fica brava’... E eu não estava. Mas pelas vias de conversas textuais, como saber a interpretação de quem me lê? Eu não estava brava, mas palavras, para mim, são realmente valiosas. Não dissesse que faria, apenas isso. E você realmente não mais o fez.
Mais um bloqueio de presente! Contudo, meu bem... Sim, sim e sim, a falha dessa vez foi sua. Se a minha pelo excesso, egoísmo, a sua pela ausência, apatia.
Sem saber ao certo em que momento, passamos a agir como se um fosse o que o outro não queria. Você mais do que eu. Falhamos demais. Oras, bolas! Somos humanos.
Você me bloqueando e eu tentando entrar. Você, bloqueando o desconhecido,  julgando, pelo que viu, como algo perigoso, que você já conhecia. Eu, tentando entrar, tomando como desafio essas portas fechadas do teu eu.  Você assustado com o belo, por receio de ser atacado, outra vez. Eu, com as chaves nas mãos, sem saber usá-las, com receio de não ter ajuda, outra vez.
Sei que você começou a ver em mim o que você não queria para si, mas eu também bem sei que suas lentes estavam (ou estão) embaçadas, engorduradas, com o cansaço do dia-a-dia, com as responsabilidades cobradas num espaço de tempo, e de vida, tão recente.
Começamos a disputar, sem nem saber. Procuramos controlar, mas controlar o que? Os dois levantaram suas defesas, só que procurando se proteger dos exemplos passados, sem nem ter certeza de que eles se repetiriam nessa história... Ah, mas esse medo de ‘um não sei o que’ foi tão grande, que tornou- se preferível achar que agíamos com a razão. Na verdade, penso eu, ficamos cara a cara com o medo, tanto o medo de uma nova decepção, de uma nova cobrança, como o medo de ter que olhar pra si próprio quando olhávamos um para o outro. Não, não era razão, era medo.
Sei que poderia ter sido algo simples. Sei que poderia ter sido nada, que poderia ter sido muito. Eu não falo de amor ou de paixão. Falo de entrega ao novo. Que saudade que dá de um simples 'olá', logo de manhã. Mas sei lá, isso não se recupera...
Agora... assim... sabe, pode ser que minhas palavras nessa história mal contada, tragam brilho a um rígido e frio olhar, bloqueado, resguardado. Talvez se pondo em dúvida do que está fazendo como escolha.
Olha, veja bem... Algo eu sei: esse olhar... Ele é carcaça. Que esconde pureza e afeto. Que protege do medo. Que afugenta o insensato. Que desvia os ataques, mas também o que é zelo. Tão bem sei sobre isso, pois esse olhar, também foi meu.

E nós? Ah...
A gente se gostou...
Talvez você, não mais do que eu.