quarta-feira, 17 de setembro de 2014

Por exemplo

Ele, em pensamento - Ela não me entende. E eu não entendo o que é que ela não entende.
Ela, em pensamento - Eu não entendo como ele não faz as simples coisas que eu preciso.
Quando se encontram:
- Oi...
- Oi.
- Como você tá?
- Bem. Normal.
E o silêncio daquilo que queria ser dito toma dias e dias. As conversar se resumem em coisas bobas, "onde vamos comer", "assisti um filme legal", "sai com os moleques", "tô cansada, pois fiz limpeza". Melhor dizendo, conversas não... monólogos.
Ele diz, ela diz... Eles se ouvem, mas não se acolhem. Um espera do outro e os dois ficam à espera.
Até que as coisas explodam.
- Porque você blábláblá e você blábláblá!!!!
- Mas eu nem sabia!
- Não me venha com essa! Como não sabia? Eu só podia esperar isso de você.
E a dor os toma, sem nem saber direito o porquê.
- Então vou falar também, só você acha que não tá bom? Eu isso, eu aquilo, enquanto você blá, blá e blá.
E a raiva os toma, sem nem saber direito o porquê.
Os berros só aumentam, as acusações só aumentam. O sentido daquilo se perde nos desabafos confusos de tudo o que se guardou.
Não dá certo. Vai cada um prum lado ou termina. Ou depois finge-se que nada aconteceu numa calorosa reconciliação ou numa fria manhã comum e distante.
Faltou, faltou dos dois lados. Mas dificilmente se perceberá sua própria contribuição para chegar onde chegou.
Transparência, sinceridade, humildade, aceitação. Nada disso houve.
Eles vão se tornando estranhos, sem nem entender por que aquele amor que parecia ser completo virou dor, mágoa, raiva e se fragmentou em pedacinhos que não mais se juntarão perfeitamente.
Aí é que está, se desejares uma peça perfeita, esta terá de ser jogada fora, com certeza. E correrás o risco de que as próximas peças se quebrem, do mesmo jeito.
Mas se souberes que dá para, com o que sobrou, transformar a peça em algo novo, até mesmo mais bonito, vale a pena, com paciência, encontrar essa nova forma, encaixando, peça a peça, com cuidado e atenção. Nunca sozinho. Senão novamente caímos no erro. Precisamos ter em mente que relações são construídas em pelo menos dois pontos de ligação, o eu e o você, o ele e ela, por exemplo.
É preciso entender que o outro não é aquilo que desenhamos em nossa imaginação. Esse é o que você espera desse outro. O outro tá do lado de fora de você. Esteja aberto a amá-lo como ele é, com defeitos, defeitos, limites, imperfeições e qualidades pouco valorizadas (escondidas atrás de tanta decepção, talvez vistas só lá no começo, quando a paixão cegava). Isso é condição de ser humano.
Não é o outro que você consegue mudar, você muda a forma como recebe esse outro e a forma como constroem essa relação de vocês.
O que muda o outro, é apenas ele mesmo.