quinta-feira, 6 de dezembro de 2018

Riscos a se contar

Eu me arrisquei
Em riscar os nossos traços
Em traçar os nossos planos
Em planar em nossos sonhos
Em sonhar com nossos desejos
Em desejar que arriscassemos

E então rabisquei algumas linhas
Pra desenhar os nossos traços

Mas foi um risco
E deu lugar ao meu arisco

Quis rasgar o tal papel
Engavetá-lo junto aos nossos
planos, sonhos e anel
Mas um gesto tão bonito
Não pode ficar escondido
Arriscado às traças

E então preparado está
Enrolado com um pano feito laço

Esperando ver se este será solto
Para ser coisa bonita a se contar


Mandala

Ao mandá-la embora, sentiu um frio na barriga e um medo de não estar fazendo a melhor escolha.
Ao mandá-la embora, sentiu que parte de si partia junto com a partida dela.
Ao mandá-la embora, sentiu um embrulho no estômago como se o mundo girasse e não fosse possível descer.
Ao mandá-la embora, descobriu que quem queria ir era ele próprio. E então gritou: - fique! Mas já era tarde.
Ela ainda olhou para trás, ela ainda parou, ela ainda abaixou a cabeça, ela ainda quis ficar.
É que ao mandá-la embora, girou a mandala do tempo, que não volta, que não para, que não recolhe o que foi jogado.
Ela então descobriu-se mandala. E ninguém mais seguiu a mandá-la sem que fosse permitido a mandala seguir.

segunda-feira, 26 de novembro de 2018

Prefiro viver minha utopia e pagar o preço disso do que viver essa distopia que nos é gratuitamente cara

domingo, 26 de agosto de 2018

Porta semiaberta

Não é questão de como ou porquê. É.
Não é questão de  ficar ou partir. É de estar.
Não é questão de ter medo ou coragem. É de seguir.
Não é questão de certo ou errado. É de aprender.
Não é questão de se é ou se não é. É de ser.
E é.
E será.
O que tiver que acontecer.
Do jeito que tiver que acontecer.
Enquanto tiver que acontecer.
Só basta aproveitar e viver o agora. Da melhor forma.
Porque não é questão de ganhar ou perder.
É questão de jogar. Se entreter. Entre Ter-se. Ser te o hoje.
Não é questão do ontem ou do amanhã. É entre os dois.
Entre...

terça-feira, 21 de agosto de 2018

Desabafo alado

Ninguém perguntou se ele queria
Ficar em exposição na galeria
Mas foi colocado assim mesmo
Dentro da gaiola estava a esmo

Quando sua história alguém ouviu
Um novo pensamento então se abriu
Tamanha sua vida indefesa
Longe de sua própria natureza...

"Quanta gente livre me olhando
Alguns fotografam admirando
Há quem  nem me note de verdade
Outros querem o preço e a validade

E a minha vida segue assim
Não tenho um começo e nem um fim
Fico à espera engaiolado, acorrentado, enjaulado, enlaçado
Pra quando por alguém eu for levado
Compor um ambiente decorado
Ser um quadro, um alarme, ou um pelúcia animado
Um investimento muito bem aplicado

Mas vocês se encontram na razão
Sustentam-se na tal evolução
Que faz de outra vida o que bem quer
Submissos querem os bichos, os pretos, os pobres e a mulher

Sorte que elas hoje estão gritando
E nós infelizmente só aceitamos
Não temos muito a quem nos ouvir
Quem ouve é rotulado imbecil ou sonhador

E eu vou seguindo assim mesmo, oh minha dor

Quando encontro alguém a quem me ame, oh meu amor

Entrego e confio até o fim, cuida de mim

Que dó tenho dos outros que não tiveram o mesmo fim

Vidas mortas em função de mil festins

Isso é um latido, um canto, um miado
Isso é um relincho, um mugido, um piado
Isso é o som que cada um de nós fazemos

Isso é um pedido de ajuda, muitos sofremos

Mas ainda assim minha vida entrego nas mãos tuas
Se essa é a vida que há pra mim, sigo a missão
Só desejo que o amanhã seja assim, não"

Quando essa história alguém ouviu
Um novo pensamento então se abriu

O que faço dessas vidas indefesas
Longe de sua própria natureza?
Não gosto de ser um explorado,
Mas se eu puder, sem perceber,
Exploro até o irmão ao lado.
O que faço dessas vidas indefesas
Longe de sua própria natureza?
Entregues suas vidas em nossas mãos
Isso é o que chamamos evolução?

terça-feira, 5 de junho de 2018

Três décadas e?

Estou com meus quase trinta anos e às vezes me sinto tão inutil...
Estou com meus quase trinta anos e às vezes me pergunto o que fiz de importante até então...
Estou com meus quase trinta anos e às vezes não sei o que estou fazendo aqui...
Com estes quase trinta anos completos, eu não conquistei muita coisa, eu não sei pra onde ir, não sei me dedicar aos meus planos, idealizo tanto e realizo tão pouco...
Com estes quase trinta anos, eu sei fazer muitas coisas e não sei render em quase nenhuma delas, sei viver pro outro, mas quando não há o outro, será que eu sei viver pra mim? Me sustentar, sobreviver nesse mundo louco, consumido e consumado...
Eu não posso dizer que sou infeliz ou algo assim. Não e isso. Eu tenho muito a agradecer. Mas tem hora que eu não me encaixo aqui...
Queria fazer algo grandioso e não consigo nem fazer as coisas cotidianas direito. Sei que sou falha, mas nem sempre sei  como cheguei naquela falha e então decido mudar. Eu quero melhorar. Mas quando vejo, de novo, idealizei mudanças que não se realizam...

Só um desabafo mesmo.
Tem hora que é mais difícil...

sexta-feira, 4 de maio de 2018

Paixão não é amor. É tempero

Toda e qualquer forma de amor e válida. O problema é que nos dias atuais, muitos já não sabem o que é, ou nunca experimentaram o amor. 
Ficam, de "amores em amores", se envolvendo ao ritmo e desejos de suas paixões.
Pattos, palavra que dá origem às palavras como patologia e paixão - adoecimentos. Quando a paixão nos move, ficamos deficientes da razão, temos dificuldade em enxergar o outro como ele é. Vemos a partir da construção que nós fizemos desse outro. E quando o fogo da paixão começar a reduzir, as coisas se esfriam... 
Quanta gente já nao teorizou, poemisou, musicou, recitou sobre isso. Mas a gente tem tendido a gostar de uma doença nessa nova era, ne?! Tá na moda nao dar conta e precisar de algo externo para nos curar. Olha! Que ironia... Com as paixões também funciona nessa lógica. Quando a paixão deixa seus resquícios de que passou, a gente corre para as exterioridades.

Parem de confundir isso com amor, só parem.

terça-feira, 24 de abril de 2018

Que comecem (e não acabem) os jogos

Que sejam corriqueiros os passos para os próximos jogos.
Que a decisão de te roubar um beijo diariamente, não seja proibida  nas regras do jogo da vida.
Que minha dose diária de loucura, sejam as apostas que fizer com você.
Que, como num jogo de estratégia, haja conexão nas ações para a vitória.
Que, como num jogo de sorte, o inesperado seja de sintonia harmoniosa.
Que, como num jogo de tabuleiro, nada seja tão por acaso assim.
Que, como num jogo recreativo, nossa facilidade em sorrir não chegue ao fim.
Que, como num jogo de improviso, saibamos reagir, solucionar, aceitar e rir.
Que, como diz Rubem Alves, nossos jogos sejam como frescobol, onde "para o jogo ser bom, é preciso que nenhum dos dois perca, (...) ou os dois ganham ou ninguém ganha". 
Um jogo equilibrado, rumo ao acaso do começo, sem medo do fim.

quinta-feira, 19 de abril de 2018

Descartes

Quando você quis entrar, eu disse o quanto eu era difícil.
Quando voce quis entrar, eu disse quantos medos eu tinha.
Eu desabafei e dasabei, mostrei o quanto eu não me achava "tudo aquilo" que as pessoas acham quando chegam.
Mostrei-me frágil e insegura, mas talvez você só tenha visto o que queria ver.
E você quis ficar.
E você viu que eu não sou tudo aquilo que as pessoas acham quando chegam. Viu meus defeitos, meus medos, você viu que eu não sou fácil e então você quis sair.
Mas eu tinha avisado.
Você não quis ficar, não quis me corrigir, não quis tentar junto (porque sozinho você deve ter tentado), não quis colocar o amor à frente, quis eliminar o desconfortável. O desconfortável que você agradece pelo crescimento.
Eu chego e ajudo a crescer.
E quem me ajuda a crescer?
Quando insatisfaz, descartada.

sexta-feira, 23 de março de 2018

Meia tela

Ele só observa 
O vazio 
O caos 
O mundo

Mundo revirado
Que deixa assustado
O coração alado
Com medo de voar

Ele está  à  espera
Da metade
Do sorriso
Do segundo 

Segundos demorados
Que passam desesperados
Pelo coração alado
Com medo de ficar

Ele só observa
Enquanto espera
E vê a vida passar

quinta-feira, 22 de março de 2018

Mãos de sorte

Destas pedras não há mal, nem riquezas
Não se medem força, nem beleza.
Rolam pelos caminhos que não sabem quais são
E não há problema em não saber,
Algumas vezes 
Perdem-se pelos papeis,
Sem deixar de existir, 
Sem deixar de ser...

Desembrulha do papel, continuam a rolar

No papel ficaram as marcas.
Desamassa, nova textura,
Pega a caneta ou o lápis,
Escreve o que vier à mente em sua forma mais pura.
Risca, refaz, sem precisar apagar
Corrige o que for preciso, sem precisar mudar
E, não mais que de repente,
A tesoura passa a te nortear...

Permeável, permite-se ao recorte 

E as mãos direcionam o jogo,
Tesourando um contorno,
O mais bonito que puder,
Cria a forma mais sublime que vier
Para emoldurar o conteúdo
E por a história recortada 
Como um quadro, pendurada,
Na parede da construção da vida, engraçada.


Mãos livres para começar a próxima rodada.

terça-feira, 6 de março de 2018

Voz à voz

Quem diria que a voz do acaso não seria ao acaso.
E aí,universo, tem mais algo inesperado?

Bons momentos que ficam na história,
Possíveis de serem revisto nas fotos e na memória.

A voz tem um bom coração. E um caminho livre para espalhar a canção.

A voz tem beleza e verdade pra desvendar o mundo  e passar a mensagem.

Que trilhe o caminho do som. Que o som seja luz.
Que a luz ilumine o trilhar.

E quem sabe nesses caminhos da vida,  mais algum destino o universo venha a traçar.

sábado, 24 de fevereiro de 2018

A estrada ensina

Sou artista das palavras,
minha vida é  filosofia,
música e poesia.
Não há verso sem angústia,
até na alegria.
Inexplicável foi a sina
Te levar pela estrada da vida.
Casar por menos de um dia
E ter história pra contar.
Agradeço o encaixe, o sorriso,
o suor e a rima.

segunda-feira, 19 de fevereiro de 2018

O coma das ilusões

Como você  pode ir embora assim, sem nem dizer adeus direito?
Que direito você julgou ter pra transformar nós dois em algo tão inexistente assim?
Como pode dizer que eu tenho que aceitar que era amor, se você nem insistiu? Ou se foi suficientemente falso nas tuas promessas?
Você não me amou. Você amou o que eu lhe proporcionei. E quando não  encaixei mais no que você quis, foi só descartar.
Nunca esperei isso de você.
Mas olhando bem, acho que fui eu que me enganei sem perceber... mais uma vez...
E que venha a próxima ilusão...

segunda-feira, 12 de fevereiro de 2018

Recomeços

Eu já nem sei mais se quero todas essas minhas cicatrizes como exemplo quando for de encontro ao que me espera.

Elas me constituem, mas não me dominam. Ou não podem me dominar.
O que eu estou afastando de mim quando as escancaro dizendo "olhe todas as minhas dores"!? Elas já são cicatrizes, não há quem vá sumir com elas...

O que me impede de eu apostar? Em todas as outras já perdi o prêmio final...
Mas aí eu pensei: quem dita o prêmio final? O prêmio e as dores foram todo o processo. As batalhas, as lições, as lágrimas e as gargalhadas. Os tropeços, os desafios, os berros e os silêncios.

O que que eu quero senão a nova chance de dar nova chance ao velho sentimento? Coração tá aquecido e amedrontado.
Inseguro. Desconfiado. Em estado de alerta. Perdido na dúvida. Enfrentando o amanhã tão certo de incertezas. Carregando passado demais.

Mas de repente tão afim de desvendar novos segredos. De descobrir novos sentidos. De inventar novas histórias. De trilhar novos caminhos. De sonhar novas conquistas. De chorar novos motivos. De sorrir novas vontades. De amar novos defeitos.

Pelas desventuras passadas, que se não as fossem, não haveria o hoje, estou girando ao redor de mim mesma. Procurando manter-me, ao menos, no eixo...

Esperando que o ontem não seja mais usado como culpa pro amanhã não existir. E muito menos esquecido. O que quero mesmo é que ele seja motivo pro amanhã ser diferente. E que eu, mais do que ninguém, permita isso.

Velhas novas venturas. O vento as traz.

sexta-feira, 26 de janeiro de 2018

Eu digo "assim que der"

Tem coisa que a gente consegue deixar pra quando der
Mas têm coisas que não
Pois disso dependem quantas vidas ainda vão acabar
a gente... Ah... a gente nem percebe quanto depois que não acontece, por pensar que o dia certo pra mudança vai chegar
Assim que der eu reduzo
Assim que der eu estudo
Assim que der eu repenso
Assim que der eu aprendo
Assim que der eu os deixo viver
Assim que der eu respeito o ser
Assim que der eu conservo as vidas
Assim que der eu pratico empatia
Assim que der eu deixo os prazeres mundanos e dou lugar ao amor incondicional
Assim que der eu deixo de esperar a hora certa para deixar ser livre, em seu reino, o animal
Assim que der eu paro de esperar a hora certa, que não tem relógio pradespertar
Assim que der eu paro de fugir das verdades que não quero acreditar
Eu digo "assim que der"
Mas e se não der?
E que tantas vidas me perdoem os depois meus
Tem coisa que a gente consegue deixar pra depois
Alimentar o amor não é uma delas
Não se alimentar da dor não é uma delas
Quando não deu que eu aprendi
E agora somos nós que esperamos o seu tempo
Mas assim que der eu te mostro que o tempo certo é o agora
De não ser em vão esse ensinamento
De salvarmos vidas, almas, fauna e flora.

terça-feira, 16 de janeiro de 2018

A gente polui

A gente polui as águas,
As terras,
Os ares,

A gente polui as palavras,
Os pensamentos,
As intenções,

A gente polui as vistas,
Das telas aos calcadões

A gente polui a gente e nem percebe.

Acha que vai jogando fora, sem lembrar que não existe fora.
Deixando o lixo ali (vai que alguém  recolhe) em vez de agir no agora.

Nossos lixos ficam no mundo.
Os internos nos apodrecem e o fedor que sentimos dizemos ser do outro.
Os externos nos acumulam e o peso que sentimos dizemos ser do outro.
E às vezes não  tem banho que dê jeito.
Somos fonte e sobra dos dejetos.

Nosso mundo que nós  poluímos. E ele nos perdoa, mas sofre. E a gente, egoísta,  nem vê.

A gente polui, porque a sujeira tem vindo de nós.

Limpe-se,
Começando pela sujeira no chão,
Pelo excesso de lixo em grande escala de produção.
Limpe ao mundo, começando pela sujeira da mente,
Pelo excesso de coisas em grande escala de consumação.

É  tudo uma coisa só. Uma coisa só que a gente polui.