quarta-feira, 27 de setembro de 2017

Os veganos acreditam que não matam animais - análise pessoal de entrevista com Bertonatti


Fiz uma análise e opinei sobre  alguns trechos:

“Notei que nos campos de culturas agrícolas não havia pássaros, e os poucos que estavam lá acabavam sendo perseguidos” > e nas grandes cidades?

“E muitas dessas espécies – ao contrário das vacas, porcos e cabras – estavam a desaparecer. > e nas grandes cidades?

“Não há espécies animais cuja sobrevivência não resulte na morte de outros animais, directa ou indiretamente. > ciclo natural da vida.

“Muitos veganos e pessoas que só usam algodão parecem acreditar que não causam mortes, mas causam. > nesse sentido, podemos pensar sobre. Não para atribuirmos culpas ou desculpas, mas para continuarmos a expandir os graus de consciência a respeito da vida.

“O primeiro impacto do cultivo em massa é o desmatamento: forçamos a natureza a abrir espaço para as lavouras.” > Isso foi... Quando se descobriu a agricultura e o nomadismo foi sendo substituído pelo sedentarismo. Hoje, a quantidade de terra devastada por pecuária, agronegócio e plantio de madeiras (falando do meu conhecimento de Brasil) não exigiria essa abertura de espaços. Muito provavelmente, se chegássemos num nível de consciência social vegana, também já estaríamos a caminhar por um nível de consciência que conheceria agroecologia, sintropia, agrofloresta...

“A terra é fumigada para combater os fungos, insectos e outras plantas. > Outra lógica instaurada pela monocultura, pelo agronegócio , pelas produções em grande escala, onde qualquer vida precisa ser explorada. Daí a gente discute e defende as questões de agricultura familiar, orgânica, comunitária. (sugiro que assista “o veneno está na mesa”)

“se você comer carne, você mata animais, mas você também os mata ao comer plantas. Muitas pessoas que preocupam-se com questões ambientais e procuram os bons e os maus, mas não é assim: é muito mais complicado. > realmente é muito mais complicado, da mesma forma que “o veneno está mesa” mostra o nível de adoecimento na produção agrícola, o documentário “carne osso” mostra isso na indústria das carnes... e por aí vai.

“O slogan deveria ser “Não à mineração que explora imprudentemente os recursos e as pessoas”. Os activistas usam computadores que não existiriam sem os metais trazidos das minas. Estou surpreendido por eles não verem o quadro maior.” > nisso eu concordo, enxergamos pouco. Mas enxergamos pouco porque não fomos ensinados a compreender o processo das coisas, fomos ensinados a querer e usufruir dos produtos finais e estamos vivendo isso nas diversas relações que temos, desde nossa relação com a tecnologia, com a comida até nossas relações interpessoais.

“Há evidências de que os recursos necessários para a carne são muito maiores do que os necessários para os produtos hortícolas. E, que as culturas constituem uma grande parte desses recursos: uma alta porcentagem deles são usados para alimentar o gado. > Se grande parte vai para a pecuária e esse destino não fosse mais necessário, já haveria um aumento significativo das hortícolas disponíveis para o consumo humano, ou seja, aquele argumento de precisar abrir ainda mais espaço para lavouras perde mais força.

“Não estou a afirmar que os veganos são estúpidos ou que todos devem tornar-se carnívoros, só estou a afirmar que é importante ser sensato, adoptar uma posição inteligente e mostrar alguma solidariedade. > ok, concordo. Então não necessariamente o motivo único  para a mudança alimentar dele tenha sido a questão que ele próprio aponta, não é mesmo? Voltou a ser onívoro pois não evitava mortes como achava que evitava, mas e o evitar sofrimentos e exploração?

“Mostrar solidariedade com a Natureza: o mal menor.” > colocar toda e qualquer vida em função do homem não é ser solidário com a natureza. Ser solidário à natureza é entender-se como parte dela. E assim buscar um equilíbrio do desenvolvimento que o homem constituiu, tecnológico, social e global, com o fluxo natural da Terra, sua biodiversidade e seu ecossistema, qual fazemos parte e nem sabemos ou lembramos mais. Natureza se tornou paraíso, distante, peça de coleção, lazer subordinado a consumações.

“A maioria de nós vive em cidades e sabe muito pouco sobre o mundo animal. Pergunte aos seus amigos se eles podem nomear 10 animais e 10 plantas silvestres nativas da área em que vivem. > ótimo apontamento. E nem precisa viver nas cidades para desconhecer o que ele propõe.

“Os fundamentalistas só prestam atenção às pessoas que pensam como eles, e vêem todos os outros como um inimigo. É uma contradição. > Verdade... Mas temos vivido fundamentalismos, extremismos e intolerâncias em diversos campos. Se todos que têm o conteúdo que têm se permitissem dialogar, debater para construções conjuntas, para trocar e compreender, ganharíamos espaços coletivos de muito mais aprendizados e progressos do que os espaços atuais. Claro que isso não tira a importância dos movimentos necessários para que primeiro se tenha voz e que se faça ouvir.

“Existiam esses veganos que se manifestavam à frente do zoológico a gritarem para as famílias que vinham, chamando-as de assassinos. Isso prejudica o veganismo.”  > a se pensar...

“Se um bem-compreendido veganismo contribui para melhorar o mundo natural, então eu vou de bom grado tornar-me vegan.” > Ele poderia ser o precursor de um movimento assim, ué...

“A minha principal preocupação é a conservação da biodiversidade: que a riqueza da vida na Terra não fique mais pobre. > é isso... GO vegan + GO sustentável + GO biodiverso, + GO botar a cabeça pra funcionar + GO lembrar que a gente não é robô, etc e tal...

“Eu não acho que você precise de ser vegan para conservar a natureza e a biodiversidade > mas para não explorar e não fomentar o sofrimento?

“O que eu acho perigoso é gastar toda a sua energia a tentar salvar o gato preto quando não sabe nada sobre o meio ambiente” > também acho perigoso, mas aí a gente não sai do movimento, a gente amplia o movimento, oras... Ele próprio diz: A defesa dos direitos dos animais não é incompatível com a conservação da natureza.

“Por outro lado, a indiferença de alguns veganos para com os animais selvagens e a biodiversidade preocupa-me: não é consistente.” > Sim... Mas muitos veganos, antes de se tornarem veganos viviam certa indiferença para com os animais comuns à pecuária. O processo de sensibilizar-se os tornou veganos. Então, novamente, que se dê continuidade a esse processo de sensibilização.

“Reconheço o facto de que a Humanidade é uma máquina que devora o mundo. Um antropólogo afirmou que nós somos cosmófagos: devoramos o que nos rodeia. > não vejo a humanidade apenas, por si só, como se isso fosse intrínseco do humano. Nós estamos submersos num sistema de devoração chamado consumismo.

Por fim, se continuarmos a ampliar o olhar – nisso, acho que o texto ajuda a quem ainda não havia visto sob esse ângulo – vamos começar a notar mais inúmeras coisas que estão vinculadas ao automatismo em que somos ensinados a viver. Não pensamos o processo de mais nada.

Como chegou até mim? Que importa? O importante é que chegou... Como acabou assim? Nem vi passar, não entendi ou não vi o que aconteceu... Esse bife: de onde veio, como veio? Essa hortaliça: de onde veio, como veio?

A sociedade em que estamos vivendo, funcionando sob as ordens das engrenagens capitalistas, só nós passa o comando “consuma” e a gente, peças da engrenagem que fazem com que o sistema funcione, consome. Vive para consumir e possuir. Consome alimentos, consome tecnologias, consome recursos, consomes sensações e sentimentos, consome remédios, consome vidas. Consome as vidas diariamente em relacionamentos adoecidos.

Vivemos uma sociedade que esconde o processo das coisas, pois ele, o processo, é dolorido e doloroso, corrosivo, agressivo e insensível. Se a gente amplia o olhar, a gente vê que mata diariamente, aos outros e a nós mesmos. E o que a gente faz com isso? Na lógica de Claudio Bertonatti, a gente sai matando então, já que não tem como evitar. Ainda, se você deixar rolar do jeito que está, ajuda para que a biodiversidade aconteça, ou melhor, a lucrodiversidade, a consumodiversidade. A diversidade da exploração acontece: para cada novo boi empreendedor vai ter a garça serviçal. Nestes casos, diversidade não é igualdade, não é equidade, não é equilíbrio.

Tenho a impressão que faltou algo no Claudio... De repente ele até tinha dó dos bichinhos, como um feudal ou outro tinha dó dos seus escravos. “Os abolicionistas acreditam que libertam os negros, mas isso não é verdade”. E no todo não era, pois libertá-los, sem permitir e fornecer condições para que estruturassem suas vidas, sem necessitar depender do homem de posse daqueles tempos, manteve-os subalternos dos senhores ou à margem em sobrevidas. Justificável, quando enxergados como inferiores. Então manter a produção destes animais “feitos pra comer” é justificável, quando enxergados como inferiores. Pois não matá-los e deixá-los livres, sem permitir e fornecer condições para que estruturem suas vidas (voltar a existir florestas, por exemplo), sem necessitar depender do homem de posse desses tempos, os mantêm subalternos dos senhores ou à margem em sobrevidas.

E, veja bem, não foi valoroso tal movimento de abolição há pouco mais de um século? Quantos não foram contra e não viam sentido nisso?

Egoísmos da vida. Embranquecimento da vida. Antropocentrismo da vida. Automatismos da vida. Hierarquização da vida. Desnaturalização da vida.



Essa visão de superioridade e de onipotência é que mata e não só aos “animais”. 

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